sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estória

Idealizo-nos em universos tão pequenos, reservo espaços para falas e olhares ensaiados em meu consciente. Mas o destino consegue ainda nos manter em anonimato. Um para o outro, sempre sem saber o que exatamente deve-se pensar. Os olhares nem sempre dizem tudo, apesar de que um dia eu já houvera proferido o contrário. É como andar sobre o meio-fio de calçadas desconhecidas, como procurar uma resposta de algo que já houvera sido respondido por alguém, sem saber qual a resposta.
Sem cometer um passo já temo o pior, de abrir mão de tudo para alcançar um outro tudo, porém sem conseguir, sem alcançar este objetivo. De qualquer forma, não deixo de temer, não deixo de buscar desculpas pra evitar, pra desviar a minha própria vontade de mim mesmo.
Eu conheço estes olhos, só não sei o que eles me aguardam. Eu sei que algo há por trás, sinto que este escuro um dia já foi claro, sinto esta felicidade adormecida. Mas ela não precisa me dizer, eu quero descobrir sozinho. Farei-o quando puder, quando partir ao meio essa corrente em meus pulsos, que me impede de abraçar, de conhecer, de enfim ser livre.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Maybe you can help me

Parece tão difícil. Tão difícil dirigir essa simplicidade que aos poucos, sempre acaba nos causando a maior de todas as complicações. Nós somos assim, tão felizes e infelizes, sempre insatisfeitos com algo, simplório ou grandioso, é sempre tanto faz. Eu tento escrever, eu ensaio o que escrever, mas nunca sei como continuar; eu tento conversar, eu ensaio o que falar, mas também acabo sem saber como continuar, sem saídas.
Sei que não domino alguns sentidos em certas circunstâncias. Sei que por aquela pessoa, eu enxergaria o verde nos galhos das árvores vazias de outono; eu viveria do pior, se assim pudesse lhe despertar algum sorriso, um esboço de sorriso. Eu queria poder voltar, mas não moveria um objeto do lugar, não mudaria qualquer coisa, mesmo que o futuro que me aguardasse não fosse tão glorioso quanto havia pensado. Eu quero que seja assim, mas não vou mudar, você não vai mudar.
Eu tento escrever, mas as restantes linhas em branco acabam por me dominar; eu tento conversar, mas os seus olhos me carregam ao pranto, por não conseguir lhes abandonar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Consulta com a lógica.


- Ardem lágrimas rastejando sobre meu rosto, ardem cores invadindo o meu rancor, a minha raiva, o meu repúdio e o meu orgulho. O que significaria tal sensação de perda, mesmo que há instantes nada pudera me afetar, nada fizera-me ver tal realidade que eu ainda insisto em acreditar ser ilusória, acreditar estar apenas me confundindo ? Bastara apenas um olhar em direção ao espelho, tentando encontrar tal expressão de avidez naquele rosto vazio após tal comum ato de rispidez, para dar-me conta da desordem que causei à mim mesmo não só agindo com arrogância durante tanto tempo, mas por também nunca ter agido com certa compaixão. - Desabafou e questionou-o com certo tom de apreensão, também com expressão estranha no rosto, como se já soubesse qual seria a sua resposta.
- Da mesma maneira que apenas sorrir, não lhe faz uma pessoa feliz. Veja bem, não há um Deus lhe castigando ou um demônio lhe manipulando. As suas lágrimas me dizem isso, o seu pânico me mostra isso. - Disse o outro homem observando-o com expectativa, esperando que não entendesse a mensagem.
- Desculpe, não entendi o que quis dizer. - Disse o outro, parecendo cada vez mais preocupado.
- É simples, trata-se de acúmulo, trata-se de limite. Você me diz que nunca sentira-se mal por machucar um outro alguém com atos de arrogância e palavras ríspidas, mas sabe que não é verdade. Deixe-me continuar com meu exemplo: uma pessoa comum pode simplesmente camuflar tal sofrimento apenas sorrindo, mas sabe por si própria que isso não a faz feliz. Essa certeza ao longo do tempo irá somar um certo peso, e em algum momento já não haverá mais como carregá-lo. Em algum momento, não mais haverá como camuflar mais um sorriso, não mais haverá como fingir ser feliz. É como ouvir uma música que não goste até mostrar que não lhe agrada, como receber leves tapas no rosto até começar a lhe doer, entende ? - Terminou, questionando-o, mais uma vez com expressão de expectativa no rosto enquanto observava-o.
- É... - murmurou, como se estivesse pedindo mais explicação.
- Se invertermos tal situação, chegamos à sua. - continuou o outro - Você, como uma pessoa normal, também possui um limite. Já não pode mais fingir satisfazê-lo com ignorância, petulância, agora sabe mais que antes nunca soubera que isso não lhe faz bem. Na verdade, nem um pouco.
- Acho que entendi... - afirmou com cautela o outro homem, ainda parecendo curioso - Mas eu ainda preciso saber: o que fazer para resolver tal dificuldade, para reverter tal situação ? - Perguntou, seguido de um breve silêncio, com os olhos curiosos arregalados em direção ao outro homem.
- É simples, faça o contrário: descarregue o peso. - Disse o outro por final, com um sorriso no rosto.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Blackbird.

 O seu canto ecoava, abafando o farfalhar das árvores daquela noite morta, silenciosa como sempre. O tom de dor, as melodias sombrias, o exalo de consternação óbvia que afirmava ocultar aos de fora, depravavam os distraídos, condenava os que tentavam ajudá-lo, ao deixar claro que toda ajuda que qualquer um pudesse lhe oferecer, seria de uso completamente inútil, que era inútil aos que tentavam, aos que se importavam. Mas os mesmos que depois então desistiam de ajudá-lo, de manter-se por perto para procurar uma evolução visível, somavam-no dor sem perceber, por simplesmente não resistir à ideia de que tal jamais arriscaria procurar a felicidade, que mesmo tanto desejando, afirmava tal sinônimo de fim caso se machucasse mais uma vez.
 Sabia que doeria se tentasse. Porém, poderia doer mais, em uma simples questão de tempo, caso também não tentasse. O seu caminho de escapatória era repleto de lembranças, aquelas que deveriam ser esquecidas caso tivesse que seguir em frente, caso tivesse que voar e fugir de sua dor incompreendida. Os seus olhos fundos impediam-no de enxergar, talvez um galho vazio para o seu pouso, no fim daquela estrada de obstáculos temidos, que já achara impossível de cruzar para chegar ao outro lado então desconhecido, melhor por talvez esconder uma esperança, que tanto aguarda a chance de agarrar, sem precisar sair do seu lugar e enfrentar uma dor que sabe ser tão rigorosa, sem ao menos precisar sentir o seu sabor, ou até mesmo um simples cheiro.
 Suspeitava por uma saída, mas era só. Não acreditava em sua capacidade, para resistir ao que o afligiria no momento de sua fuga, em direção ao seu final feliz, ou ao que acreditava ser ao menos não-tão-doloroso quanto lá o seu presente lhe mostrava. Suas asas quebradas, já não eram mais notadas. Também há muito sem ao menos ser tocadas, talvez para enfrentar a possibilidade de voar novamente, eram possivelmente as peças mais importantes para o sucesso de uma solução. Mas temia, e não ousava enfrentar o que temia.
 Só não enxergava que tratava-se de uma dor inevitável, mesmo que tanto procurasse rejeitá-la, um dia ela iria o alcançar, e tornar-se ainda maior quando enfim percebesse que desde sempre o melhor à ter sido feito, era ao menos arriscar, era ao menos tentar voar.


  "Blackbird singing in the dead of the night,
   take these broken wings and learn to fly
   All your life,
   you were only waiting for this moment to arise."

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tears.

 Deixou de ser silêncio. O som das lágrimas ao chão ecoavam na ilusão dos meus pensamentos, o realismo fugia das minhas teorias, o otimismo era só o que restava. De manter o positivo mentalmente, acreditando que tudo acabaria bem, ignorando a porta escancarada na entrada e as mentiras rejeitadas, derramadas sobre o tapete de boas vindas. Ignorava o olhar aos cacos de uma taça quebrada de vinho desperdiçado, e ao que toda aquela tensão e desordem simbolizava no ar que respirava, nas palavras que sussurrava à mim mesmo com cautela e dificuldade.
 A verdade havia sido a melhor e pior escolha à ser feita. A dor de perceber o bem aos olhos de fora e o mal aos meus de dentro, aumentando o peso sobre a minha consciência em cada "obrigado" vindo de você, me forçou a revelar o pesadelo escondido nas páginas doídas dos meus atos, além do lindo sonho escrito com audácia em uma capa inocente que há tanto, eu tentava aparentar. Porém o tempo todo, com seu rosto alegre aos meus olhos, comparecendo nos momentos arriscados, tristes e tranquilos. Me questionando após errar, porque havia errado se você estava aqui o tempo todo. Não fazia sentido, nunca fez.
 Horas passavam-se. Não arriscava contar quantas vezes murmurava por seu nome, esperando uma terceira chance, uma terceira chance não-merecida, aquela que poderia poupar de ser desejada, se antes que tarde demais agisse de uma forma mais sensata, menos arriscada. Se ao menos tivesse recordado o significado pesado de uma segunda chance antes já obtida, talvez houvesse sido diferente. Talvez o som da sua voz, do seu riso exagerado, do seu olhar tão barulhento, ocupasse o das minhas lágrimas envergonhadas, arrependidas, o das minhas lágrimas enfim sinceras.

Desculpas não resolvem mais nada. Mas peço desculpas.

sábado, 14 de maio de 2011

Something.

 Uma tarde fria, vazia. Já não mais pensava. Apenas observava, tantas pessoas sem destino, guiadas por seus passos gastos, desorientados, passavam desatentas por seus olhos. Ele então há horas sentado no mesmo banco, daquela mesma praça quase sempre deserta. Um, dois, no máximo três olhares lhe eram o bastante. O primeiro, rejeição. Os estranhos não entendiam-no, ao mostrar tal necessidade de encontrá-la novamente, talvez reconhecer o seu andar, desde então inesquecível, tão marcante em suas poucas lembranças que restaram, que então sobreviveram. O fracasso mais uma vez chamava o seu nome, de um lugar distante, distante daquela praça, daquele banco, daquelas pessoas, ao encontrar mais uma vez a diferença, ao perceber que as semelhanças fugiam de sua realidade, sua realidade então repleta de ilusão, de mentiras, de retratos falsos. Após então era a frieza aos seus poucos atos variados, quando levantava-se, era apenas para garantir mais uma rosa em suas mãos, mais pétalas inocentes ao chão, mais lágrimas a serem contidas, mais uma tentativa de dor a ser amenizada.
 Queria poder pedir o seu perdão. Queria ao menos avistá-la outra vez. Procurava o que esquecer, para que então não pudesse esquecê-la. Já fazia tanto tempo, mas devido aos seus métodos, nem disso conseguia lembrar-se. O que era a sua sorte naquele há tanto único momento? Perguntava-se, onde estava o seu bom Deus durante todo este tempo? Não sabia ao certo o quanto foi, mas tinha a certeza de que não havia sido pouco. Muito tempo, desde então ali, no mesmo lugar. O mesmo desejo, a mesma tristeza. Disso ele tinha certeza.
 Estava tudo tão desordenado. Mesmo ao não agir de outra maneira durante tanto tempo, ao não perceber a diferença sem perder o foco do que desde então fazia. Os segundos caminhavam devagar, os minutos corriam apressados, as poucas horas voavam, deixando os mesmos fatos para trás. Pedir perdão? Para quem? Já não sabia o que fazia lá, o que o fazia acreditar que algo poderia mudar. O mesmo desejo mandava-o ficar, esperar, por algo que então já tinha certeza que não iria um dia o alcançar. Mas então ficou, recusando-se a chorar, apagando mais lembranças, para que a mesma desde então permanecesse lá. Beijos, tampoucos existiam. Abraços, havia esforço para lembrar. Palavras, não sabia de que letras tais eram compostas. Sua voz, era apenas o esboço de uma nota mal interpretada, só podendo ser lembrada por lembrar de tal tão destacada, de uma música que nunca por ele faltaria ser recordada.
      "Something in the way she moves, Attracts me like no other lover..."

 Levantou-se. Temeu em passar à sua frente, mas continuou, após o primeiro trêmulo passo. Fechou os seus olhos, não parou. Esbarrava nas pessoas que cruzavam o seu escuro e perigoso caminho, não parou. Aquele banco então já mostrava-se distante às suas costas. Aquele banco daquela praça quase sempre deserta. Daquela que ficava em frente às pessoas nas calçadas, tão próxima aos carros que passavam continuamente.
Não parou, até que enfim tudo acabou.

sábado, 7 de maio de 2011

Moonlight.

 Os passos firmes. Os olhos fechados. Caminhava tranqüilo sobre as calçadas, ao brilho das estrelas que guiavam aos poucos que permaneciam com os olhos abertos, com um destino previsível, com a tensão sob controle. O escuro era sinônimo de incerteza, incerteza por não haver como saber por onde andar, por não existir possibilidades de seguir passos já existentes, marcados na superfície daquela tão duvidosa calçada, de caminho imprevisível e obstáculos ocultos, à quem resistira a tentação de avistar uma saída à caminho do conveniente, o mais previsível que pudesse ser, por não resistir e apenas por usar os próprios olhos.
 Aos olhos estranhos, um lunático dificilmente sóbrio à passar no caminho do perigo, que para estes, o aguardava para o quanto breve possível. Apesar dos olhos ainda mantidos fechados, o que na verdade os fazia pensar desta maneira, era ao encontrar um sorriso descontraído em seu rosto, perceber também a facilidade que encontrava ao atravessar cada centímetro, à cada passo, sem temer tropeçar em um percurso desconhecido, um percurso de perigo. Facilidade que os intrigava, que os invejava.
 Podia sentir a luz do luar em sua pele, podia enxergá-la mentalmente. Assim pensava, assim enxergava. Nenhuma tentação o assombrava, era aquele mesmo escuro, aquela mesma incerteza que o fazia sentir-se bem, que o fazia continuar à andar, sem se preocupar com os obstáculos que o aguardavam por onde pudesse somar passos, em direção do imprevisível.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Always will.


 Tocavam-se as primeiras notas. Seus olhos perdiam o foco, as mãos quase que inteiramente trêmulas. Dentre tão poucos segundos, foram tantos momentos em que se viu naquele tão confuso conflito de emoções, permanecendo externamente imóvel, sem demonstrar qualquer tipo de reação. À cada nota era um instante à ser recordado, à cada acorde era o mesmo rosto à ser idealizado.
 A mente vazia, vazia de tão cansada como nunca antes pôde estar. Lutava para permanecer imóvel, para suportar a dor que o convinha, uma dor que crescia, junto à tão grande sensação de ânsia, de expectativa, ao naquele tão doloroso momento, restarem apenas alguns segundos para que tão gloriosa e familiar voz recitasse palavras tão ingenuamente bonitas, mas de significado importante e doloroso para tal, enquanto uma harmonia tão tranqüila e quase mais bonita, tornasse a voar graciosamente em seus ouvidos, ainda causando a mesma reação, a mesma que naquele momento ocorreu, a mesma que sempre ocorre quando encontra forças para tentar mais uma vez. Tentar ouvi-la até o final, controlar uma dor indescritível. Achava que só assim poderia enfim esquecer; esquecê-la.
 Sentiu um aperto, pronunciando a primeira palavra mentalmente, enquanto o disco empoeirado permanecia a girar, junto à uma voz de tom grave e bonito, que cantava tranqüilamente, à cada palavra equivalendo uma facada em seu peito, mesmo ainda conseguindo manter a expressão sem-expressão em seu rosto, o olhar vago, o mesmo filme à ser reproduzido em sua mente.
 "Love me tender, love me sweet...", cantava a voz lentamente, retardando a velocidade da pronuncia mentalmente, agora em transe. Com cada letra, cada palavra de tal frase, flutuando em sua mente, invadindo de forma inexplicável o seu campo de visão, ainda com cada uma representando uma parcela de dor à ser somada. Mas estava disposto à ir até o fim.
 Sabia do que a próxima frase era composta, e o que ela então representava entre as outras. Ao mesmo tempo buscava uma maneira de conseguir não escutá-la, e de alguma forma ignorá-la. "...Never let me go", continuou a cantar a voz. A expressão vazia então alterou-se. Fechou os seus olhos, a mente travada na primeira palavra após inteiramente ser pronunciada. Era como se o tempo, em algum lugar de sua mente, houvesse parado, como se a frase possuísse apenas tal palavra, que quando enfim deixou seu consciente, trouxe junto para fora uma lágrima, como se viesse em forma de tal, deslizando de seu rosto, secando antes de tocar o chão. Ao final da frase, aquele adeus foi de forma surpreendente o único momento à ser recordado por ele, junto à uma expressão considerada irreconhecível, tendo sido a última a ser vista em tal rosto tantas vezes relembrado. Ao menos em sua direção.
 "You have made my life complete...", continuou. Voltou às boas lembranças, voltou ao tempo em que sua vida era feita completa, completa por apenas um detalhe, pelo mesmo que mais tarde o faria lamentar, e implorar tantas vezes para obter mais um momento no passado, por mais curto que tal pudesse ser. Em meio à uma seleção interna de expressões, ao final da frase o que destaca-se em seu rosto é um repentino sorriso, tão discreto, tão simplório, mas que junto à ele deslizava outra lágrima sobre seu rosto, agora de expressão estranhamente feliz, estranhamente por de alguma forma ainda simbolizar a mesma dor que cada vez mais se destacava, agora independente de qual expressão pudesse estar exposta em sua face.
 "... And I love you so", terminou. Nada aconteceu. Por dentro, tudo acontecia. Era uma frase tão curta, tão simples, de palavras tão convenientes, mas que para ele, nada mais que a pura verdade de tal significado simbolizado por cada sílaba de cada palavra, poderia ser descrito. Mas não sabia o que sentir. Nunca soube até chegar a tal frase. Era dor ? Não sabia. Bastavam segundos de tal música, para que aquele vazio que prevalecia no atual de seus dias logo fosse preenchido por tantas lembranças. Mas permaneciam à ser as mesmas. Sempre, as mesmas lembranças. Talvez este fosse o problema, talvez por recordar e viver tanto do passado, o fizesse crer que não mais poderia ser feliz, pelo simples fato de que o passado é o passado, e que o que ficou para trás, pode ter desistido de alcançá-lo, estando ele exatamente onde antes esteve, ou não.
 Enfim moveu-se, ao levantar-se da cadeira, antes que pudesse mais uma vez, depois de tanto tempo, ouvir aquele tão significativo refrão. Retirou o disco do seu velho toca-discos, sentou-se mais uma vez, esvaziou a mente ao novamente fechar os olhos, e à todo tempo tentar convencer-se de que está dormindo, e o que se passa é nada mais que mais um sonho ruim, um pesadelo para ser esquecido, ao quem sabe um dia, acordar mais uma vez onde tanto deseja estar. Lá.
 Aquele refrão, este sim sabia que era dor. Tentava esquecer, mas as mesmas palavras ainda ecoavam em sua mente. Aquelas que ele há tempos não ouvira, aquelas que tanto temia, aquelas de aquele refrão.


                    " Love me tender,
                      Love me true,
                      All my dreams fulfilled.
                      For my darlin' i love you,
                      And i always will. "

domingo, 17 de abril de 2011

Circles.

 São as palavras que eu um dia usei; as palavras que eu tanto desejei obter a chance de pronunciar mais uma vez. Tal desejo agora entre tantos que até hoje não foram realizados. Entre todos aqueles que um dia eu desejei.
 A sensação de vazio prevalece, prevalece ao lembrar de um passado preenchido de tantas boas lembranças, boas lembranças que até quando o dia antes de ontem, chamara-se presente, eram listadas como fatos de um cotidiano vazio, cinza e sem graça. Mal eu sabia que aqueles pequenos detalhes, fariam tanta falta nos meus dias de hoje. "Eu era feliz, mas não sabia disso".
 Lembrar; lembro que naqueles mesmos dias, o sentimento que agora me convém era o mesmo. Chamava-se viver do passado, sustentar a minha parede emocional de tijolos soltos, com aquela rara substância que encontrava-se apenas nas ainda mais antigas boas lembranças, usada então para colá-los, colá-los de maneira resistente, incapaz de romper o vínculo de cada pequena quantia de boa lembrança com cada pequena e gasta unidade de tijolos, tal qual ainda tinha esperança de que algum dia, um número maior envolvesse-a, que algum dia aquela parede se tornaria tão alta quanto a que simboliza os meus erros, minhas decepções.
 Mas se a mesma sensação me convinha no passado dito feliz, o que poderia dizer-me se o mesmo agora ocorre no futuro passado coberto de incerteza, no presente dos meus dias, no repudio chamado de atual que paira no vazio, talvez ilusório, cinza e desconhecido cotidiano? Eu suplico por uma nova vida no passado, mas já não tenho certeza se o mesmo ocorrerá nos dias que virão, no escuro e embaçado futuro que me aguarda, ansiosamente.

Eu exijo respostas, eu desejo respostas, mas nada acontece, nada se esclarece.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Você.


 As outras vozes, as mentes maliciosas, o complô do que costuma negar o meu querer e destacar os meus erros como uma cruel forma de entretenimento, para si mesmo, é o mesmo que agora contradiz a minha teoria, aquela que afirma que tal pessoa já não é mais a mesma que antes costumava ser. Dele tais palavras insinuam que tal indivíduo, apenas não mais age como eu gostaria, como agia, e como eu me acostumei. Me acostumei com aquela expressão doce tantas vezes usada em sua face, e até mesmo com um simples tom de voz, que antes, emitia um sinônimo de segurança, à cada palavra que tal era usado. São tantos destes pequenos detalhes que apontam para os fatos, dos mesmos fatos para as mesmas perguntas, e das mesmas perguntas para a mesma conclusão: Nada do que antes foi, agora pode ser.
 Ao crer na mesma teoria, na conclusão que eu mesmo tive de encontrar, tento descobrir qual das duas pessoas que enxerguei em uma só, é a verdadeira; A de voz doce e expressão apaixonada, pela qual teria me encantado e segurado com a maior parte das minhas forças, pelo simples fato de não deixar de enxergá-la, durante aqueles tão belos dias que hoje, dão cor ao meu tão cinza e monótono passado; ou a que agora se destaca contra a minha vontade, a minha imensa vontade de que mesmo tão evidente que possa ser a diferença, não querer enxergá-la a ponto de furar meus olhos para viver mais alguns segundos na ilusão que eu mesmo criei ? A verdade se aproxima cada vez mais, e os meus sentidos imploram para ouvir aquela voz dentro de mim, a que faz com que eles todos se desliguem, para que possam existir apenas boas lembranças, quando enfim sozinho e livre da minha ilusória obsessão, poder recordar com um sorriso no rosto, dos momentos que existiram, existem e ainda irão existir, ao lado de quem eu espero poder acreditar que foi real, que ainda é real, e que por enquanto, só dá razões para a alegria prevalecer, e aquela vontade de viver tudo novamente. Você.

domingo, 27 de março de 2011

Homenagem ao melhor.


O tempo voou, voou tão rápido que nem sei o quão, tão rápido que nem ao menos tive a chance de presenciar. Se tive, posso jurar não me lembrar, não me lembrar das coisas magníficas que aconteceram aqui, as coisas ditas magníficas pelas pessoas que conseguem recordar, tudo aquilo que eu não posso, tudo aquilo que eu não vi, tudo aquilo que eu não tive a chance, a tão desejada chance de poder ter presenciado tal importante presença, aquela vibrante presença, aquela que eu não sei, aquela sua presença.
 As recordações imploram para vir, para existir, ao simplesmente ouvir a sua tão bela voz, recitando as mais belas palavras, palavras tão bem escolhidas por você; ao compreender a sua visão das coisas, por mais banais que poucas possam ser; ao perceber que a sua vontade nada mais era que expressar as suas tão fascinantes opiniões, que desde sempre abriram os olhos de tantos como eu; ao também conseguir sentir, o que você mesmo se diz sentir, em tantas das suas palavras registradas em harmonia, que até hoje ecoam na mente de milhões, muitos com a mesma vontade, aquela de obter lembranças suas, mas não poder pela simples lógica do tão por mim odiado tempo, aquela que nem a maior de todas as vontades pode contrariá-la; nem pela minha vontade, aquela minha vontade de fazer o tão dito e feito impossível, e enfim, ao menos uma vez poder adormecer com tranqüilidade, sabendo que você sempre vai estar aqui, em algum lugar, nas minhas lembranças.
 Hoje faria 51 anos o maior poeta, cantor, e compositor que o Brasil já viu, Renato Russo. E é a ele dedicada esta homenagem em texto, com o objetivo de lembrar o quão boa e importante foi a sua passagem por aqui, mesmo que muitos de nós não tenhamos presenciado-a.

Parabéns Renato, pelo seu aniversário, e pela marca que você deixou em nossos corações. 

Que descanse em paz.

terça-feira, 15 de março de 2011

A incerteza.

 A expectativa torna-se evidentemente imensa ao perceber que novamente obtenho a chance de escolher a que caminho percorrer, e finalmente decidir-me qual de tantas destas portas amontoadas, neste tão estreito corredor, será a escolhida para selar um novo percurso nos meus passos tão desorientados, que sem a ajuda dos meus olhos aparentemente iludidos pela tão traiçoeira beleza do pior, não tiraram bom-proveito das minhas ultimas oportunidades obtidas do mesmo.
 Os meus olhos agora mais atentos, seguem à analisar cada porta no estreito e agora aparentemente extenso corredor, tentando como as tantas outras vezes encontrar a de melhor opção, a de maior meio-termo em relação ao egoísmo e o altruísmo, a de talvez menos arrependimento proporcionado para mim mais adiante, no tão desconhecido do futuro previsível que me aguarda.
 Entre tantas portas numeradas e variadas pela diferença do exterior de cada, aleatóriamente considero a opção de tal porta, pouco/nada me importando com o número, estou prestes a bater as três vezes suficientes em sua superfície de madeira sólida e áspera, quando previsivelmente me convenho no tão familiar pensamento, "é apenas uma entre as tantas portas que eu tenho a oportunidade de escolher". Logo assim, sigo a caminhar no tão extenso e estreito corredor com passos cautelosos, novamente sem a mínima noção de preferência do que devo ou não escolher.
 O tempo passa, e a mesma cena é repetida inúmeras vezes quase equivalendo os tantos passos realizados por mim em direção ao desconhecido do fim do tão extenso corredor, aparentando um horizonte infinito, sempre com tantas portas à volta e a mesma linha reta em direção de tal. Como o esperado, a ansiedade logo me ataca vulnerável, encontrando abrigo em mim e acomodando-se cada vez mais a cada segundo que passa, atraindo também o tão temido medo de na incerteza apenas encontrar o vazio, e nada mais que ele só.
 É das mesmas usufruído o infinito dos meus passos nos dias de hoje, que ainda sem contar ou memorizar cada porta não-escolhida atenciosamente, ainda resta um pouco da tão grande esperança de que talvez um dia possa encontrar uma janela aberta no final do tão extenso corredor.

terça-feira, 1 de março de 2011

Visão de idiota(s).

 Tente convercer-me que desistir é sempre mais fácil que tentar. Tente passar por cima e usufruir do impossível, que aparentemente para vocês, espectadores, chamá-lo de possível parece ser uma escolha mais plausível. Tente não engolir as tantas ásperas palavras proferidas com ríspidez de um outro alguém, sendo ele nunca apenas um "alguém". Tente não engolir as tantas ásperas palavras miradas de sua própria boca para fora, simplesmente para não ter de opinar a desistir, sendo ela a melhor ou pior escolha a ser feita. Tente pela mesma causa negar algo ao "alguém". Tente a curto prazo esquecer o que lá aconteceu. Tente a curto prazo esquecer o lá não aconteceu. Tente afastar-se; ao fracassar, tente outra vez. Tente cursar um caminho diferente de tal. Tente não rejeitar as palavras mais sensatas, que ao inverso são para você na situação atual. Tente rejeitar as belas e insensatas palavras que o seu alguém ensaiou com malícia e terceira intenção. Tente não citar tal nome; se conseguir, tente citar um nome diferente.
Assim como eu, tente não tentar, e da mesma forma chegar a mesma conclusão de todos ao simplesmente observar o ridiculo da situação. Agora tente não me achar um idiota.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mistakes.


 Em busca do sucesso me deparo com o fracasso. Mais uma vez, só depois de muito tempo dou-me conta disso. De todo foco que impus no perfeito, percebo agora que foi apenas para camuflar o imperfeito. O imperfeito há pouco não existente no meu mundo. O imperfeito que agora, nada menos que essencial é o que tornou-se. Não só para destacar os meus erros que a muito tornam-se mais freqüentes e de certa forma invisíveis, mas também para abrir os meus estrábicos olhos direcionados para ilusão e, agora redirecionados para a realidade.
 Ele sempre esteve ali, na minha frente, na nossa frente. Amenizar a freqüência da sua aparição também tornou-se um ato muito freqüente, com o objetivo de que em algum momento qualquer ele simplesmente desaparecesse. Mas não foi o que aconteceu. Ele sempre esteve ali, na minha frente, na nossa frente. O nosso erro.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fotogenia.


 E mais uma vez durante horas, eu apenas contemplava cada largo ou discreto sorriso que as fotografias de uma gaveta abandonada exibiam de mim mesmo, quando mais novo.
 E mais uma vez, eu apenas me perguntava o que de tão radical teria acontecido para tudo se tornar tão diferente desde aqueles dias únicos, preenchidos de alegria, com muita diversão e variedade, para os dias de hoje, tão monótonos e rotineiros. O que teria causado a falta de sorriso que hoje me convém, e que naquela época era provavelmente o que mais sobrava. E que baseando-me em minhas lembranças nunca chegou a faltar em cada longo e inesquecível dia.
 Seria a falta de ter com o que me preocupar, mesmo não havendo tanta diferença em relação aos dias de hoje? Ou seria a simplicidade que na minha visão eu encontrava ao apenas olhar à minha volta, sempre conseguindo enxergar um largo sorriso por trás de cada rosto triste que cruzava o meu caminho ao simplesmente caminhar pelas calçadas?
 Mesmo sendo um tanto banal, tornou-se agonizante procurar as respostas para isso e não conseguir encontrá-las. Sem ter certeza eu respondo que à mim pertencia mais felicidade, quando questionado por alguém pelo mesmo motivo que também me questiono. Eu apenas era mais feliz, estou quase me convencendo de que esta seja a verdadeira resposta.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pais e Filhos.



Em uma noite fria de outono qualquer, algo chama a atenção dos desabrigados que buscavam aconchego perambulando pelas ruas vazias de um bairro qualquer, e dos gatos que se mantinham sentados em um muro frio e rabiscado de uma das maiores residências daquele pequeno bairro. Um som semelhante ao de um objeto extremamente pesado sendo arremessado contra o chão preenche o silêncio vazio das ruas desertas, junto ao que pareciam ser ensurdecedores gritos de crianças, em um tom de pavor elevado, capaz de acordar uma vizinhança inteira. Vários vizinhos curiosos como eles só, logo saem de suas casas, deixando de lado o também aconchego de suas camas lotadas de cobertores quentes e travesseiros confortáveis, para ver o estranho e curioso incidente, também sem muito se importar com o frio daquela noite úmida e sem vida. A reação de todos foi a mesma ao descobrir o que havia acontecido...
 No dia seguinte, o que realmente chama a atenção, não são as estátuas e cofres e paredes pintadas no local, ou os boatos de que ela havia se jogado da janela do quinto andar. O que chamava atenção era uma carta que se encontrava em cima de uma escrivaninha vazia, ao lado de uma janela aberta e com rachaduras estranhas em um vidro empoeirado. Dizia a carta:

  "Aqui estou eu... lá estava ela. É difícil explicar como em poucos segundos tornou-se simplesmente impossível contar as lágrimas que agora caem do meu rosto, ou as que secaram no ar e não tocaram o chão. As palavras me faltam em um momento tão significante como este, mas talvez eu tenha motivos. Vocês, meus queridos pais, devem saber do que falo.
 Não sabem o quanto são importantes pra mim. De cada momento marcante com vocês que fiz questão de guardar junto às minhas mais preciosas lembranças, todos são de imensa importância recordar pelo menos uma vez à cada dia da minha vida.
 De um simples "quero colo" à um conveniente "posso dormir aqui com vocês?", de um exagerado "vou fugir de casa" à um inocente "tive um pesadelo". De cada momento em que me encontrei em um dramático "estou com medo" e vocês com a maior simplicidade e confiança que deveriam me passar responderam, "Pode dormir agora, é só o vento lá fora". Das vezes em que exigi uma explicação lógica ao perguntar "porque que o céu é azul" ou lhes pedindo, "explica a grande fúria do mundo" e vocês ainda sim de alguma maneira sabiam responder cada uma das minhas insanas perguntas, conseguindo fazer-me calar a boca. Já tive tamanha audácia de culpa-los por tudo, sei que é um absurdo e por isso, arrependo-me demais.
 O problema atualmente não é comigo, eu sei. Mas já faz tanto tempo que os vejo se desentenderem e isso não me deixa apenas muito chateada, mas também sem opções. Sei que é normal, que sou uma gota d'água, um grão de areia em meio a multidão que agora deve passar pelo mesmo que eu. Mas como eu disse, estou sem opções. Foi a unica maneira que encontrei para fazer vocês de uma vez por todas esquecerem os motivos fúteis que geram as tantas das suas confusões, e que não deixam apenas à mim chateada, mas as crianças que hoje merecem o que eu também tive a felicidade de ter na idade delas, os seus pequenos filhos, meus irmãos. Não deixem que passem pelo mesmo que eu.
 Espero que escutem da próxima vez, quando lhes disserem como eu sempre disse, que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se pararmos para pensar, na verdade não há. 


Eu amo vocês. "

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bed Time


 Abro os olhos. Fecho-os outra vez. Dedico toda a minha atenção ao que ainda consigo ouvir em meio à aquele horrível silêncio, que de certa forma, logo torna-se um tanto barulhento. Abro os olhos mais uma vez. Com óbvia agonia me esforço para não fechá-los outra vez, levantando-me logo da minha cama bagunçada, recolocando os travesseiros no lugar e juntando as xícaras espalhadas pelo quarto. Abro a porta, me deparando com pessoas de verdade, sonolentas e de mal-humor. Entro novamente no quarto, fecho a porta. Deito-me em minha cama. Fecho os olhos, e volto a dormir.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Apresentação

 Eis que surge mais um figurante no insignificante mundo do anonimato, com a esperança de que alguém queira ouvir suas tristes reflexões de fatos de um cotidiano chato e sem a menor variedade positiva.


Meus pêsames e muito prazer.