terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mistakes.


 Em busca do sucesso me deparo com o fracasso. Mais uma vez, só depois de muito tempo dou-me conta disso. De todo foco que impus no perfeito, percebo agora que foi apenas para camuflar o imperfeito. O imperfeito há pouco não existente no meu mundo. O imperfeito que agora, nada menos que essencial é o que tornou-se. Não só para destacar os meus erros que a muito tornam-se mais freqüentes e de certa forma invisíveis, mas também para abrir os meus estrábicos olhos direcionados para ilusão e, agora redirecionados para a realidade.
 Ele sempre esteve ali, na minha frente, na nossa frente. Amenizar a freqüência da sua aparição também tornou-se um ato muito freqüente, com o objetivo de que em algum momento qualquer ele simplesmente desaparecesse. Mas não foi o que aconteceu. Ele sempre esteve ali, na minha frente, na nossa frente. O nosso erro.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fotogenia.


 E mais uma vez durante horas, eu apenas contemplava cada largo ou discreto sorriso que as fotografias de uma gaveta abandonada exibiam de mim mesmo, quando mais novo.
 E mais uma vez, eu apenas me perguntava o que de tão radical teria acontecido para tudo se tornar tão diferente desde aqueles dias únicos, preenchidos de alegria, com muita diversão e variedade, para os dias de hoje, tão monótonos e rotineiros. O que teria causado a falta de sorriso que hoje me convém, e que naquela época era provavelmente o que mais sobrava. E que baseando-me em minhas lembranças nunca chegou a faltar em cada longo e inesquecível dia.
 Seria a falta de ter com o que me preocupar, mesmo não havendo tanta diferença em relação aos dias de hoje? Ou seria a simplicidade que na minha visão eu encontrava ao apenas olhar à minha volta, sempre conseguindo enxergar um largo sorriso por trás de cada rosto triste que cruzava o meu caminho ao simplesmente caminhar pelas calçadas?
 Mesmo sendo um tanto banal, tornou-se agonizante procurar as respostas para isso e não conseguir encontrá-las. Sem ter certeza eu respondo que à mim pertencia mais felicidade, quando questionado por alguém pelo mesmo motivo que também me questiono. Eu apenas era mais feliz, estou quase me convencendo de que esta seja a verdadeira resposta.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pais e Filhos.



Em uma noite fria de outono qualquer, algo chama a atenção dos desabrigados que buscavam aconchego perambulando pelas ruas vazias de um bairro qualquer, e dos gatos que se mantinham sentados em um muro frio e rabiscado de uma das maiores residências daquele pequeno bairro. Um som semelhante ao de um objeto extremamente pesado sendo arremessado contra o chão preenche o silêncio vazio das ruas desertas, junto ao que pareciam ser ensurdecedores gritos de crianças, em um tom de pavor elevado, capaz de acordar uma vizinhança inteira. Vários vizinhos curiosos como eles só, logo saem de suas casas, deixando de lado o também aconchego de suas camas lotadas de cobertores quentes e travesseiros confortáveis, para ver o estranho e curioso incidente, também sem muito se importar com o frio daquela noite úmida e sem vida. A reação de todos foi a mesma ao descobrir o que havia acontecido...
 No dia seguinte, o que realmente chama a atenção, não são as estátuas e cofres e paredes pintadas no local, ou os boatos de que ela havia se jogado da janela do quinto andar. O que chamava atenção era uma carta que se encontrava em cima de uma escrivaninha vazia, ao lado de uma janela aberta e com rachaduras estranhas em um vidro empoeirado. Dizia a carta:

  "Aqui estou eu... lá estava ela. É difícil explicar como em poucos segundos tornou-se simplesmente impossível contar as lágrimas que agora caem do meu rosto, ou as que secaram no ar e não tocaram o chão. As palavras me faltam em um momento tão significante como este, mas talvez eu tenha motivos. Vocês, meus queridos pais, devem saber do que falo.
 Não sabem o quanto são importantes pra mim. De cada momento marcante com vocês que fiz questão de guardar junto às minhas mais preciosas lembranças, todos são de imensa importância recordar pelo menos uma vez à cada dia da minha vida.
 De um simples "quero colo" à um conveniente "posso dormir aqui com vocês?", de um exagerado "vou fugir de casa" à um inocente "tive um pesadelo". De cada momento em que me encontrei em um dramático "estou com medo" e vocês com a maior simplicidade e confiança que deveriam me passar responderam, "Pode dormir agora, é só o vento lá fora". Das vezes em que exigi uma explicação lógica ao perguntar "porque que o céu é azul" ou lhes pedindo, "explica a grande fúria do mundo" e vocês ainda sim de alguma maneira sabiam responder cada uma das minhas insanas perguntas, conseguindo fazer-me calar a boca. Já tive tamanha audácia de culpa-los por tudo, sei que é um absurdo e por isso, arrependo-me demais.
 O problema atualmente não é comigo, eu sei. Mas já faz tanto tempo que os vejo se desentenderem e isso não me deixa apenas muito chateada, mas também sem opções. Sei que é normal, que sou uma gota d'água, um grão de areia em meio a multidão que agora deve passar pelo mesmo que eu. Mas como eu disse, estou sem opções. Foi a unica maneira que encontrei para fazer vocês de uma vez por todas esquecerem os motivos fúteis que geram as tantas das suas confusões, e que não deixam apenas à mim chateada, mas as crianças que hoje merecem o que eu também tive a felicidade de ter na idade delas, os seus pequenos filhos, meus irmãos. Não deixem que passem pelo mesmo que eu.
 Espero que escutem da próxima vez, quando lhes disserem como eu sempre disse, que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se pararmos para pensar, na verdade não há. 


Eu amo vocês. "

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bed Time


 Abro os olhos. Fecho-os outra vez. Dedico toda a minha atenção ao que ainda consigo ouvir em meio à aquele horrível silêncio, que de certa forma, logo torna-se um tanto barulhento. Abro os olhos mais uma vez. Com óbvia agonia me esforço para não fechá-los outra vez, levantando-me logo da minha cama bagunçada, recolocando os travesseiros no lugar e juntando as xícaras espalhadas pelo quarto. Abro a porta, me deparando com pessoas de verdade, sonolentas e de mal-humor. Entro novamente no quarto, fecho a porta. Deito-me em minha cama. Fecho os olhos, e volto a dormir.