quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Uma tarde sem ponteiros


O apego é o pravo da perda. A incerteza do futuro que nos pertence, nos faz sentir como se eternamente houvesse um amanhã para cada próximo amanhã, sem pensar nas inúmeras possibilidades de desastre no nosso cotidiano por consequência do mesmo descuido: não estar preparado.
Aquela mãe é filha. É neta, bisneta, avó e bisavó. E quanto mais ela adoece, mais o sentimento de desabo incide na vida dela. Mas a circunstância a faz pensar que a dor apenas lhe pertence, que agora tudo lhe conspira contra, que tudo deixou de estar ao seu favor. Que não há prós, que não há um meio de história aproveitável, antes do inevitável e trágico fim que aguarda por todos nós. Esta parte do futuro já não possui incerteza. E nos dói saber disto. Lhe dói.
Mas a dor flutua o tempo todo sobre quem possui o apego. O apego, o pravo da perda. Afinal, sem apego, a perda não seria perda. A perda seria apenas mais um fim, mas não é assim.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Em branco

Tão quieto, quedo, onusto, porém vazio. Percebe a falta de tudo, até mesmo das tantas horas em devaneio que antes tantas vezes costumava encontrar-se, ou qualquer pista para que algo agora aflore em sua mente. Só fica ali, espiando pelo vidro da janela, aquele ar de fora, aquelas flores no jardim, o canto, o riso, a fala. Não mais sonha com essas coisas, não deseja, não lhe atentam. "Que houve com as folhas de caderno preenchidas espalhadas pelo chão do quarto?" Só sabe lamentar, pois não sabe como explicar. Sabia por si próprio que de certa forma, aquela antiga infelicidade era o que tanto o incentivava a escrever durante horas para si mesmo. Mas dessa vez é diferente. Não afirma qualquer felicidade, por não saber exatamente o que a mesma significa. Ele só sabe que não sabe, que não vai e que não será. Ele sabe que os amigos estão indo embora, e que dessa vez os vai deixar do lado de fora. Por tanto lamentar, por tanto esperar.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Perante atual angústia

Regredindo imprecisamente e interruptamente. Posso ver os intervalos em que minha pouca inspiração se diz presente novamente, outros em que apenas mente estar. Intervalos em que o tal muro extenso de concreto mostra-se ilusório, pouco amedrontador contra os meus objetivos. Posso vê-los, talvez até vivenciá-los com uma boa porção de sorte; porém, nada mais são que intervalos.
Diferença alguma pode fazer certo alguém, tampouco o ávido desejo de agir, de mergulhar na dor tão profundamente até descobrir o que lhe dá origem e, da mesma forma dar-lhe um fim. Poder fazê-lo sem precisar tomar precauções, sem dar porquê ao racional, sem machucar, sem se afogar. Sem uso de rosto afável, cortês aos que acredito serem merecedores de toda rispidez que implora para ser exposta, que implora para ser usada, que implora para machucar. Que não uso por medo do incorreto.
De toda forma, aquele sorriso de sempre estará no mesmo lugar, aquelas palavras permanecerão a ser usadas da boa e mesma maneira de sempre. Certo alguém continuará aqui, provido de meu amor, provido de minha atenção. Mas certa coisa está faltando, e tal falta está incomodando. Certa coisa continuará lá, provida de minha pouca inspiração, provida de vontade e sensibilidade que agora, causa grande e dolorosa saudade. Espero que um dia possa enfim voltar. Não sozinha por ser coisa, por não ser alguém. Um alguém eu já tenho, e este alguém me faz feliz.