quinta-feira, 28 de julho de 2011

Consulta com a lógica.


- Ardem lágrimas rastejando sobre meu rosto, ardem cores invadindo o meu rancor, a minha raiva, o meu repúdio e o meu orgulho. O que significaria tal sensação de perda, mesmo que há instantes nada pudera me afetar, nada fizera-me ver tal realidade que eu ainda insisto em acreditar ser ilusória, acreditar estar apenas me confundindo ? Bastara apenas um olhar em direção ao espelho, tentando encontrar tal expressão de avidez naquele rosto vazio após tal comum ato de rispidez, para dar-me conta da desordem que causei à mim mesmo não só agindo com arrogância durante tanto tempo, mas por também nunca ter agido com certa compaixão. - Desabafou e questionou-o com certo tom de apreensão, também com expressão estranha no rosto, como se já soubesse qual seria a sua resposta.
- Da mesma maneira que apenas sorrir, não lhe faz uma pessoa feliz. Veja bem, não há um Deus lhe castigando ou um demônio lhe manipulando. As suas lágrimas me dizem isso, o seu pânico me mostra isso. - Disse o outro homem observando-o com expectativa, esperando que não entendesse a mensagem.
- Desculpe, não entendi o que quis dizer. - Disse o outro, parecendo cada vez mais preocupado.
- É simples, trata-se de acúmulo, trata-se de limite. Você me diz que nunca sentira-se mal por machucar um outro alguém com atos de arrogância e palavras ríspidas, mas sabe que não é verdade. Deixe-me continuar com meu exemplo: uma pessoa comum pode simplesmente camuflar tal sofrimento apenas sorrindo, mas sabe por si própria que isso não a faz feliz. Essa certeza ao longo do tempo irá somar um certo peso, e em algum momento já não haverá mais como carregá-lo. Em algum momento, não mais haverá como camuflar mais um sorriso, não mais haverá como fingir ser feliz. É como ouvir uma música que não goste até mostrar que não lhe agrada, como receber leves tapas no rosto até começar a lhe doer, entende ? - Terminou, questionando-o, mais uma vez com expressão de expectativa no rosto enquanto observava-o.
- É... - murmurou, como se estivesse pedindo mais explicação.
- Se invertermos tal situação, chegamos à sua. - continuou o outro - Você, como uma pessoa normal, também possui um limite. Já não pode mais fingir satisfazê-lo com ignorância, petulância, agora sabe mais que antes nunca soubera que isso não lhe faz bem. Na verdade, nem um pouco.
- Acho que entendi... - afirmou com cautela o outro homem, ainda parecendo curioso - Mas eu ainda preciso saber: o que fazer para resolver tal dificuldade, para reverter tal situação ? - Perguntou, seguido de um breve silêncio, com os olhos curiosos arregalados em direção ao outro homem.
- É simples, faça o contrário: descarregue o peso. - Disse o outro por final, com um sorriso no rosto.

2 comentários:

  1. Etienne, posso dizer o quanto fiquei encantada com esse texto? Você simplesmente me deixou sem palavras.
    Não é só um texto e sim se vê uma verdadeira ''consulta com a lógica''.
    O modo como você consegue tornar suas palavras em um texto tão pequeno, simples e de grandeza é o que mais me deixa fascinada e com vontade de vir aqui há cada dia para ver um novo texto.
    Continue assim, beijo.

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  2. Obrigado pelo comentário, sua opinião é realmente muito importante, Jeni.
    Beijo.

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