quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Uma tarde sem ponteiros


O apego é o pravo da perda. A incerteza do futuro que nos pertence, nos faz sentir como se eternamente houvesse um amanhã para cada próximo amanhã, sem pensar nas inúmeras possibilidades de desastre no nosso cotidiano por consequência do mesmo descuido: não estar preparado.
Aquela mãe é filha. É neta, bisneta, avó e bisavó. E quanto mais ela adoece, mais o sentimento de desabo incide na vida dela. Mas a circunstância a faz pensar que a dor apenas lhe pertence, que agora tudo lhe conspira contra, que tudo deixou de estar ao seu favor. Que não há prós, que não há um meio de história aproveitável, antes do inevitável e trágico fim que aguarda por todos nós. Esta parte do futuro já não possui incerteza. E nos dói saber disto. Lhe dói.
Mas a dor flutua o tempo todo sobre quem possui o apego. O apego, o pravo da perda. Afinal, sem apego, a perda não seria perda. A perda seria apenas mais um fim, mas não é assim.

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